segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O olhar do gringo: deixe me apresentar

ESTE TEXTO FOI ESCRITO POR BRETT GREGORY JOHNSON

Já viu aquele comercial de Havaianas? Aquele em que Lázaro Ramos e outro homem lamentam na praia que o Brasil tenha tanto problemas, mas quando um argentino que está escutando inquire sobre quais são esses problemas, os brasileiros negam que o País tenha problema nenhum, que ele seja perfeito?

Bom, para quem viu, eu me sinto muito com aquele argentino. Só que a minha situação é ainda pior do que a situação dele. Não sou um “hermanito”, e sim pareço mais um “Big Brother”, uma agente vigilante de um país que exerce o seu poder em quase qualquer canto do Planeta.

Eu sou norte-americano. Eu sou gringo.

Então, para eu inquirir, sem falar em fazer crítica sobre os problemas de um país que não seja meu, eu esperaria uma reação defensiva por conta do meu público brasileiro, similar a ela que recebeu o argentino inquisitivo. E eu, como gringo, esperaria mais ainda: uma reação ofensiva. Eu não sou ignorante aos tantos problemas que o meu país já causou no mundo. São muitos, e cada vez que eu entrar na sala de aula, ou até cada vez que eu me introduzir como um norte-americano para alguém, eu aguardo que uma crítica sobre um dos problemas com a etiqueta “Made in USA” seja discutido.

Então, quem sou eu para fazer crítica de um país além do meu? Quem sou eu para fazer crítica sobre um país que já sofreu problemas causados por mãos norte-americanas?

Eu não cheguei aqui para criticar o Brasil. Eu vim aqui em uma bolsa da organização Rotary International para estudar mais sobre o Brasil para depois ensinar outros norte-americanos sobre tudo brasileiro quando eu voltar em dezembro. Também estou aqui para compartilhar a minha cultura e oferecer perspicaz sobre o meu país complicado para quem quiser ouvir. Muitas vezes isso significa que eu recebo críticas sobre os EUA, críticas com que eu concordo muitas vezes. Eu não sou a favor do Bush, nem da guerra dele. Eu acredito que aquecimento global existe, e acho que o meu país tem que fazer mais para combatê-lo. Eu acho injusto nosso sistema de subsídios agrícolas e de tarifas contra bens brasileiros que é contraditório do nossa fé zelosa no comércio livre. Entre outras coisas.

Quando viajar, você acaba dando mais conta às coisas ruins do seu próprio país. Mas também acaba conhecendo outro país que—como qualquer outro—tem os seus próprios elementos bons e ruins. Ao final de contas, comparar os problemas que o seu país nativo e o seu país anfitrião têm não é um questão de determinar qual deles é melhor. Sim é uma questão de entender melhor o que é que compartilhamos quanto a nossos problemas, o que é que fazemos para curar eles ou prevenir outros, e o que é que podemos aprender de nossas experiências ao mesmo tempo distintas e semelhantes.

Então, meu discurso crítico aqui neste blog não é para zombar do Brasil e elogiar os EUA. É sim para oferecer as reflexões de um estrangeiro sobre o tempo dele no seu país adotivo, em nome de entendimento mútuo entre os povos de dois países que em muitas maneiras são primos.


Não sou hermanito, nem um Big Brother. Sou sim um primo gringo, e este é o meu olhar.