quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Adeus povo bom...

ESTE TEXTO FOI ESCRITO POR BRETT GREGORY JOHNSON

O outro dia eu estava andando para o EPA no Coreu, e senti um peso grande em algum lugar no meio da cabeça. Veio a toa, mas sabia o que era, e sabia que senti-lo-ia de novo, várias vezes durante os próximos 20 dias, e certamente depois. Parece que tem uma grande hidroelétrica atrás dos olhos, e a água está acumulando atrás dela. A água acumula por causa da tristeza, mas controlamos ela e prevenimos que ela acumule demais. Mas, quando menos esperamos, quando somos atingidos de repente por um momento tão triste que não podemos escapar dela, a hidroelétrica quebra baixo o peso da água, e a água se alvoroça dela sem parar.

A minha hidroelétrica ainda está intacta. Por enquanto.

Durante meu tempo aqui no Brasil, tenho sonhado literalmente uma vez por semana com a minha volta para casa. Sempre é a mesma coisa. Chego no aeroporto de Cedar Rapids, Iowa. Abraço a minha família e meus amigos. Dou uma voltinha pela cidade para visitar lugares e amigos e matar saudades. E depois acordo, e ainda estou no Brasil. Realmente não fico triste, mas as saudades de casa perduram.

Ultimamente, não tenho tido esses sonhos. Não porque perdi as minhas saudades de casa; elas ainda permanecem. Mas sim porque está caindo a grande ficha de que daqui a 2 dias (desde esta postagem) tudo o que era a minha vida pelos últimos 10 meses vai-se trocar pela minha vida antiga. A rotina diária, a comida, os sentidos, a língua, as interações com o povo, os desafios grandes e pequenos de cada dia, as aulas, e os queridos amigos, tudo vai mudar.

É a vida agridoce de um viajante. Por um lado, conhece novas paisagens, novas culturas, novos amigos, e, a final de contas, novas coisas sobre si mesmo e sobre a sua cultura natal. Por outro lado, conhecer novo povo significa despedir de outro, e voltar depois para este significa despedir daquele, com quem você já ficou confortável, e a quem você realmente deve todo o seu crescimento como ser humano e cidadão global durante o seu tempo com eles. Nosso mundo atual globalizado alivia o dor através de meios de comunicação mais extensivas: email, Orkut, Facebook, Skype, até este mesmo blog. Mas só um pouquinho. Nem o Skype, com a potência não só de falar com uma pessoa no outro lado do mundo, mas também de ver ela por webcam, pode suplantar um encontro de amigos num boteco ou teatro ou fora da sala de aula.

Eu cheguei no Brasil numa boa onda. Tinha uma professora belohorizontina na minha faculdade em Iowa, com quem estudei português (até um pouco de mineirês) e cultura e literatura brasileira. Ganhei uma bolsa da organização Rotary International para estudar na PUC e morar em BH durante este ano, sem a qual eu não teria tido os recursos para financiar uma experiência assim. Mas a realidade difícil dessa boa onda é que ganhei essa bolsa em junho de 2006, 20 meses antes de embarcar para cá. O Brett naquele momento estava mais doido do que nunca para sair da sua casa, com a qual não tinha ligação muito forte. 20 meses depois, o Brett não era o mesmo: tinha criado ligações mais fortes com a família dele e com os novos amigos que ele tinha feito durante aquele tempo. Aquele dia frio e invernal de despedido foi mais difícil do que eu esperava; a minha hidroelétrica quebrou mais de uma vez. Mas o desafio foi preciso, ainda que significasse soltar de uma ligação com a casa mais forte do que nunca. O meu destino já foi escrito, as cartas baralhadas. Foi minha vez para jogar.

E agora, enquanto está chegando cada vez mais perto o dia da minha volta, a aparição do Brett de 2006 me está visitando de novo. O que fiz neste país, as pessoas que conheci, as amizades que criei, todo o que aprendi, tudo aconteceu como aquele Brett queria. Ele e o Brett de fevereiro de 2008 já fizeram um acordo de paz. Mas o novo Brett que resultou dessa paz—eu—está amaldiçoado com o seguinte dilema: está pronto para voltar para casa, mas não está pronto para despedir daqui.

A minha terra não tem palmeiras. Bom, pelo menos em Iowa não tem. Califórnia e Flórida têm sim. Do que saiba não tem sabiá. Mas as cigarras que lá gorjeiam, gorjeiam muito mais bonito do que as de cá. Ou pelo menos digo eu. A verdade é que há coisas nesse mundo que fazem com que não deixamos de ser encantados com nossas terras natais. Quais são algumas dessas coisas que estou muito emocionado de ter de novo em minha vida (além de família e amigos)?

· Café sem açúcar
· Comida mexicana
· A soberania absoluta da Lei
· Estradas estreitas
· Ruas que dão para correr
· Barack Obama
· Estações que realmente mudam uma para a outra

Mas com certeza existem coisas que não estou emocionado a ver de novo—aquelas coisas que causam o chamado “choque cultural ao revês”:

· Carros grandes
· O povo “redneck” ignorante
· Competição altíssima no mercado de trabalho
· A economia estragada
· Os “suburbs”
· A mídia norte-americana
· Invernos frios demais e verões quentes demais

E é lógico que tem muitas coisas brasileiras de que vou ter saudades (além dos meus amigos queridos):

· As dezenas de frutas que não temos em Iowa
· Comida mineira
· Clima agradável
· A cultura do boteco
· Paisagens lindas ao meu redor
· Transporte público bom
· O fato que todo mundo decora as letras de cada música imaginável

Mas também tem aquelas coisas que, honestamente, estou pronto para despedir:

· Burocracia
· Os malucos motoristas e motoboys
· Estudantes falando na sala de aula
· O sol forte, que queima minha pele nórdica, e que faz difícil tirar fotos boas antes das 4 horas da tarde
· Falta de respeito para o espaço pessoal do outro enquanto andando na rua o no supermercado
· A alta formalidade de eventos importantes, e pessoas que falam demais neles
· O anti-americanismo, que, embora justificado em certos casos, chega a ser cansativo

Agora vocês acabam de ver a minha maior crítica neste blog de crítica. Vou admitir, isso não é nada fácil para um estrangeiro—especialmente um norte-americano—fazer no nosso mundo pós-moderno. O lema do nosso tempo é que não existe bom nem mau quanto a uma dada cultura. Diferenças são só isso: diferenças. Mas—e isso é quase um paradoxo—as características em si de uma cultura, que formam essas diferenças, não são perfeitamente boas nem más. Sempre tem coisa para criticar. Não somos mais positivistas, mas criticamos sim o que precisa ser criticado para melhorar nosso mundo troço por troço. É o “progresso pós-moderno.” No entanto, igual aquela propaganda de Havaianas que citei na minha primeira postagem, alguém de fora criticando a sua cultura é diferente de alguém que nasceu naquela cultura. O criticado fica revoltado, e o criticador estrangeiro ganha cara de arrogante. Especialmente quando o criticador é norte-americano.

Vou te dizer que realmente é difícil andar 10 meses com a “bagagem” do seu país nas suas costas, especialmente quando ela é tão pesada como a dos EUA. É um ônus indesejável. No Brasil, pessoas que conheço no dia-a-dia enquanto estou carregando essa bagagem ou falam “os Estados Unidos é muito melhor do que aqui, neh?” (sendo ele um país de “primeiro mundo”), ou falam “o Brasil é muito melhor do que lá, neh?” Como devo responder em cada caso?

Melhor, como responderia você?

Por mim, eu sempre falo que nenhum lugar no mundo é perfeito, que é a verdade. Mas realmente é difícil construir uma fundação de objetividade nesses momentos. Eu não vim aqui para criticar do Brasil, senão por meio construtivo. Quem sou eu, com tanta bagagem, para falar com aquela primeira pessoa “sim, é verdade, Brasil é muito ruim”? Do outro lado, não vim esperando tomar tanto pau por causa da bagagem do meu país. Mas, apesar de quanto pau já tomei, posso dizer felizmente que a maioria da crítica tem sido construtiva.

Já falei isso para alguns amigos, e vou falar para todo mundo agora. Deve ser fácil viajar como brasileiro. Talvez só em Paraguai e Argentina um brasileiro vá ser mal recebido. E nos EUA um brasileiro infelizmente vai enfrentar ignorância, mas provavelmente nunca ódio. Não é assim para um estadounidense. Um brasileiro pode viajar com a sua bandeira na camisa e receber sorrisos. Um estadounidense? Lógico que não. Meu sonho é poder viajar e ser tratado igual um brasileiro. Para isso acontecer, muito (ital) vai ter que mudar quanto à política externa norte-americana. Mas mais do que isso, vai ter que mudar o comportamento de estadounidenses viajantes normais, sejam turistas, estudantes, ou empresários. Não podemos ser mais os “norte-americanos feios” (“ugly Americans”), arrogantes e sem respeito para culturas locais. Tomara que eu tenha feito a minha parte nessa missão durante o meu tempo aqui.

Apesar de toda a crítica, construtiva ou não, merecida ou não, estou feliz de dizer que eu sim fui bem recebido por um monte de amigos e (acquaintences) brasileiros. Eu podia nomear todos vocês aqui, e falar de todas as razões que vocês são especiais para mim, e todas as maneiras em que mudaram a minha vida. Realmente, vocês merecem isso. Eu não vou fazer simplesmente porque esta postagem viraria longa demais e ficaria chata para todo mundo ler. Mas vocês sabem quem são. Espero nesses últimos dias aqui na sua presença deixar vocês saberem quanto sua presença na minha vida significava, significa, e significará para mim. Eu vim aqui tremendo de medo de como sobreviveria numa terra estrangeira durante 10 meses. Estou indo embora mais forte do que nunca, e devo isso a vocês.

Thank you all so much for all that you have done for me.

Só tenho mais alguma coisa para dizer:

Adeus, povo bom, adeus
Adeus, que eu já vou embora
Pelas águas do rio eu vim
Pelas águas do rio eu vou embora
Obrigado, povo bom.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Luz no fim do corredor

(Foto por Brett Johnson)
Podem até estranhar, mas desde pequenino eu já achava legal quando acabava a luz. Era quando a família toda se juntava na mesa da cozinha e com velas acesas conversavam, bem atentos aos assuntos, pois não tinham mais nada pra fazer. Sem preocupações, pois o jeito era esperar, que alguma hora a energia iria ser restabelecida, e assim nos espalhávamos pela casa novamente, com nossos afazeres.
Imagino como deveria ser antigamente, quando não havia energia elétrica. Ao anoitecer, as velas e as lamparinas auxiliavam as atividades, que geralmente eram: ler, costurar, escrever, cozinhar, conversar, estudar... o tempo passava mais naturalmente comparado ao de hoje em dia.
Quando acabava a luz, eu ficava imaginando, olhando pela janela a cidade ou o bairro parado por conta de uma coisa que não existe, a energia.
Ontem houve uma tempestade e faltou luz no fim do corredor. Sem computador e ainda com um pouco de luz natural, fui estudar. Uma hora após, vem a preocupação: o sol desaparecendo e eu que apostava que a energia voltaria logo, acabei perdendo. Fui atrás de velas.
Acendi duas velas e continuei estudando. Mas com o tempo meu instinto de pequeno voltou, deixei minha leitura de lado e comecei a brincar com o fogo da vela. Queimei papel, plástico e, acidentalmente, dois dedos. “Quem brinca com fogo pode se queimar”, né? Depois do acidente resolvi parar um pouco de me arriscar e fiquei pensando sobre a eletricidade.
Eu estava sem televisão (que já está estragada há três meses), computador, luz e geladeira, descongelando.
Propagandas às vezes dizem que tal produto vai facilitar sua vida, tornar o consumidor mais independente, mas o que é "ser independente" nos dias atuais? “Um carro traz independência”, e se acabar a gasolina, o que é um carro? “Geladeira pra manter seus alimentos frescos”, e se acabar a energia, o que é uma geladeira? Nada! Talvez um desperdício de matéria-prima. Acho que posso comparar a situação de alguém que tem um talento e não é conhecido. Um computador desligado, sem energia, é um objeto com potencial para fazer várias coisas (escrever, comunicar, divertir, pesquisar, etc.), mas na verdade, é um monte de metais, plástico e vidro quando sem seu “combustível”.

"[...] o que é 'ser independente' nos dias atuais?"


A vulnerabilidade humana para com a energia elétrica é imensurável. O meu dia foi mais produtivo e reflexivo.
Acredito que quanto mais tecnologia tivermos, menos gênios e grandes líderes iremos descobrir, porque os que estes seriam, provavelmente,estão ocupados com algum aparelho eletrônico. Atualmente a vez é das máquinas, enquanto o mérito humano é irrelevante. Hoje em dia precisamos de energia, porque a nossa já está quase se esgotando.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Falemos da política...

ESTE TEXTO FOI ESCRITO POR BRETT GREGORY JOHNSON

Belohorizontinos acabaram de testemunhar três eleições que ganharam muita atenção da mídia local e nacional. Primeira foi a dos vereadores e o primeiro turno de prefeito, segunda foi a do segundo turno de prefeito, e terceira—que tinha nada ver com BH, mas da qual foi impossível escapar—foi a eleição presidencial norte-americana.


A primeira foi marcada pelo queridíssimo (e engraçadíssimo) horário eleitoral, no qual cada vereador tem 6 segundos para se destacar das dezenas de outros, utilizando padrões de números fáceis de lembrar, musiquinhas para reverberar nas cabeças do eleitor, e nomes esquisitos ou associados com um lugar popular: KBÇA, Antônio Cowboy, Cantor Raúl, Pelé do Vôlei, José da Padaria, etc. Outra estratégia é alinhar-se com um candidato para prefeito, mas com os tantos candidatos para vereador alinhando-se com, por exemplo, o Márcio Lacerda, essa estratégia tenha sido talvez um detrimento. Ao final de contas, provavelmente os que ganharam as vagas de vereador tenham sido aqueles que estavam melhor conectado com um grande grupo de eleitores, seja de uma igreja, escola, ou, no caso de José, uma padaria.

No segundo turno, o muito antecipado confronto entre Márcio e Leonardo Quintão chegou a se contestar. O empresarial versus o caipira. O tecnocrata vs. o “dá para fazer, gente.” O prefeito da aliança vs. o “dá um jóia, amor!” O mensalão vs. “vamos chutar na bunda deles!” Foi uma batalha que o menos ruim foi destinado a ganhar, e isso acabou sendo o Márcio.

(Belohorizontinos fazendo campanha para Márcio Lacerda na Praça Sete - Foto por Brett Johnson)

Depois dessa segunda eleição, a mídia tinha um pouco mais de duas semanas para devotar quase exclusivamente à eleição entre Barack Obama e John McCain para a presidência dos EUA. O Brasil, como todos os outros países do mundo menos Israel e as Filipinas, já tinha decidido quem era o preferido: o cara que parecia fisicamente mais como brasileiro. E o Brasil e o mundo conseguiu o que tinha desejado. Barack Obama ganhou do McCain no voto popular 53% a 46%, e no todo-decisivo voto eleitoral (uma conta de votos baseada nos estados ganhos, que reflete a população de cada estado) 364 a 162, um verdadeiro goleado.

Quando subiu o palco em Grant Park, Chicago, 23a hora do dia 4 de novembro, o mundo viu o rosto do próximo líder norte-americano que bem provavelmente aquele mundo nunca tinha esperado de ver. Foi um rosto negro. Embora não fosse o rosto dos negros historicamente marginalizados nos EUA, cujos antepassados vieram com escravos da África occidental e não como um bolsista em economia da Quênia, o rosto ficou negro. E verdadeiramente foi o Yang do rosto Yin do George W. Bush: branco, conservador, fodedor do mundo.

O rosto do Obama é mesmo um rosto que dá esperança, a palavra-chave em que ele baseou a campanha dele. Bom, qualquer rosto daria esperança depois de 8 anos do rosto arrogante e palhaço do Bush. Mas o do Obama, negro, jovem, forte, e até emocional (as lagrimas breves revelaram que ele ainda é humano), dá uma nova imagem para o mundo, alguém perspicaz para entender a complicada realidade política—tanto doméstica quanto global—e carinhoso para salvar os menos afortunados—de novo, tanto domesticamente quanto no mundo inteiro—durante tempos economicamente duros. O mundo pode perceber isso, e isso dá muita emoção.

(Barack Obama fazendo campanha em Iowa em Janeiro 2008 - Foto por Brett Johnson)

Mas quê do Brasil? Já percebi que a esperança que a vitória dele criou se sente aqui neste país. Mas o que é que o Obama vai fazer que vai dar aos brasileiros mais do que esperança?

Bom, primeiro, temos que dar-nos conta de que certos assuntos enormes (a economia, as guerras em Iraque e Afeganistão, a ameaça de uma Irã nuclear, uma Rússia surgindo, aquecimento global, melhorando relações com Europa queimadas por Bush, e certamente bastante mais) vão ter que ser resolvidos—ou pelo menos tentados de ser resolvidos—antes que a nova Administração Obama possa tocar profundamente a questão de relações com América Latina em geral e o Brasil em particular. Mas quando vier esse momento—alguns acham que vai demorar 12 a 14 meses para ele vir—alguns assuntos vão dominar a conversa.

O primeiro será o protecionismo norte-americano em relação à sua produção de etanol. Certamente o Brasil tem argumentos fortes que o etanol brasileiro deveria mesmo chegar aos portos de Miami e Nova Orleans livres de tarifas e subsídios dados aos fazendeiros de milho norte-americanos. Sendo democrata, a política de Obama é mais protecionista, mas talvez ele vá mudar nesse caso, especialmente porque o milho tem melhor função como comida do que como combustível.

Segundo será o reconhecimento do Brasil pelo governo norte-americano como uma força dominante, política e economicamente, tanto regional quanto globalmente. O jeito conciliatório do Obama provavelmente vá criar o clima perfeito para tal reconhecimento, e uma nova parceria entre nossos país primos.

Terceiro (e certamente vão haver mais, mas estes são os mais importantes), é a questão de desmatamento na floresta amazônica. Obama falou uma vez que ele está em favor de “incentivos” para a preservação de florestas latino-americanas. Ele talvez esteja sendo deliberadamente vago porque o assunto é muito delicado: o mundo inteiro quer uma floresta intacta para lutar contra aquecimento global; o Brasil quer a sua soberania sobre a floresta, e o seu direito de desenvolver o país em qualquer canto do seu território. Os dois argumentos são validos. Obama vai ter que andar delicadamente aqui, porque o assunto precisa delicadeza.

Quando estes e outros assuntos vierem a ser tocados profundamente pela Administração Obama, vai ter bastante ajuda pela parte dos brasileiros, principalmente no Ministro de Assuntos Estratégicos Roberto Mangabeira Unger, quem foi o professor de Obama na faculdade de direito em Harvard.

Então, quanto às relações com o Brasil e com o resto do mundo, todos esperamos que o Obama possa trazer mudanças, como prometeu durante a campanha dele, todos os 21 meses dela. Porque, depois dos últimos 8 anos, realmente precisamos mudanças. Será que ele realmente vai cumprir tais promessas?

Já ouvi bastantes vozes na PUC-Minas que acham que não. A política externa dos EUA é sempre uma coisa só, elas acham, e nem um cara que exsuda tanta esperança como Obama vai ser capaz de mudá-la. Os dois partidos políticos norte-americanos são uma farsa, argumentam, e mudanças políticas que acontecem na transição de um para outro são ilusões. É o clássico olhar marxista, e talvez tenha razão. Vamos ter que ver.

Esse negócio do número de partidos políticos nos EUA (2, embora tecnicamente existem mais 6 ou 8 irrelevantes que nunca alcançam mais do que uma fração minúscula do voto) em comparação ao Brasil (27, segundo Wikipédia) é algo interessante de analisar. É um pouco irônico, neh, que o país mais capitalista no mundo, que sempre enocrajava competição no mercado na forma de dezenas de atores oferecendo centenas de opções para o consumidor escolher, só tem dois partidos que concorrem os maiores postos de poder. É realmente ridículo pensar que dois partidos possam bem encapsular toda a população estadounidense. Talvez por isso que a taxa de participação nas eleições maiores no país só cai entre 50 e 60% no máximo. E com certeza, esse sistema bi-partidário só resulta em criar mais polarização do país, causticamente dividindo-o por uma linha só enquanto a realidade é que as posições do povo varia e flutua muito.

No Brasil, políticos disputam postos de governo através dos 27 partidos e a certidão que os votos potenciais existem, já que o voto no Brasil é obrigatório. O outro dia eu estava falando com um amigo, e ele me disse que achava o sistema bi-partidário norte-americano melhor do que o sistema brasileiro. “Políticos correm por interesses próprios, e não os interesses do povo, para os quais a plataforma de um partido ou outro declara que está representando,” ele criticou. Segundo o argumento dele, um sistema de quase 30 partidos políticos faz com que tem mais lugares para um político se candidatar. Assim, PT, PTB, e PTdoB (dono do meu
jingle favorito do horário eleitoral) não necessariamente representam os trabalhadores brasileiros, mas em vez disso são veículos para membros do elite político, aonde que caiam no espectro político, serem eleitos, e linhas partidárias entre eles e outros partidos são mais ou menos flexíveis.

(Papelzinhos de candidatos ao vereador - Foto por Brett Johnson)

Isso seria uma pesquisa interessante: ver se tal fenômeno realmente existe e não é apenas uma opinião de anedota. Por enquanto, vou deixar a crítica do sistema para quem quiser. Por mim, eu posso sim entender a lógica do meu amigo. E sim, realmente parece ridículo ter até três partidos com quase o mesmo nome. Mas o sistema norte-americano é a outra extrema do ridículo. Os políticos talvez vão ter mais incentivo para trabalhar por conta do partido e não interesse próprio. Mas, isso por sua vez cria cada vez mais dois partidos cristalizados em ideologia, e polarizados um ao outro. No entanto, como falei encima, um partido cristalizado não pode realmente representar até a metade da população; certamente vai ter conflitos de interesses dentro de um dos partidos. Está-se vendo esse fenômeno agora no Partido Republicano nos EUA. Nesse partido, tem pelo menos 4 asas que são mais mutuamente exclusivas uma à outra do que não: a asa evangélica, que luta para fazer ilegal o aborto e o matrimônio gay; a asa economicamente conservadora, que apóia políticas econômicas neo-liberais em favor dos interesses empresariais; a asa “falcão”, que quer que os EUA sejam ainda mais intervencionista e usem mais a sua força militar no mundo; e a asa moderada, de onde coube John McCain, até que ele se dêsse conta que a impopularidade dessa asa entre republicanos lhe custaria votos dos eleitores das outras asas desencantadas. Plausivelmente, o Partido Republicano poderia quebrar em quatro partidos menores, para depois fazerem compromissos legislativos entre eles do mesmo estilo que acontece nos governos multipartidários da Europa. Mas realmente, na realidade política norte-americana, é muito improvável que isso vá acontecer.

Governar democraticamente significa governar pelos princípios e interesses da maioria, mas ao mesmo tempo fazer compromissos e concessões para a minoria. Agora os republicanos estão na vasta minoria: os democratas controlam a presidência e as duas câmaras do congresso por margens significativas. Só o tribunal supremo (o
Supreme Court) inclina mais à direita, embora isso possa mudar já que é o presidente que aponta os juizes para a corte quando um juiz atual morrer ou aposentar, e é o congresso que vota na seleção do presidente. Os próximos quatro anos vão ser muito interessantes, já que os instrumentos para mudar as políticas dos últimos 8 anos (e até as ultimas 6 décadas) estão prontos, e o clima doméstico e internacional para mudança é mais favorável do que nunca. Exatamente quanto a Administração Obama e um congresso democrata muda o país, quanta vontade eles têm para fazer compromissos com a minoria conservadora, e quanto a relação entre os EUA e o Brasil cresce realmente vai ser interessante ver.

domingo, 2 de novembro de 2008

Roubaram o verde

(Foto por Ricardo Mallaco)

Roubar é tão feio. Olhe lá em Brasília, nas ruas de grandes e pequenas cidades, dentro das escolas, fora delas, no estádio de futebol, na administração do seu time, no banco, padaria, barzinho e supermercado.
Tem muita gente roubando. Roubando de tudo um pouco. Rouba-se carro, caneta, computador, bolsa, carteira, dinheiro, relógio, foto, comida... Rouba-se felicidade, amizade, liberdade, amor, esperança, paz, vida. Rouba-se até planta.
"O quê? Planta?" ÉÉÉÉ! Você acredita? Não estou falando de biopirataria, não. Isto também é roubo, mas queria falar de uma simples plantinha que foi furtada.
Há umas semanas atrás, quando estava indo para a faculdade, saindo do meu prédio, notei que havia um buraco no jardinzinho que fica logo ao lado do portão. Pensei comigo mesmo, um cachorro, talvez um tatu ("tatu no meio de Belo Horizonte?" vai saber né? Com esse aquecimento global, tudo é possível) tivesse cavado um buraco a procura de comida. Não sei. Imaginei umas três coisas. Até que a zeladora do prédio apareceu e disse: "Viu, roubaram a plantinha!"
Eu não sabia o que pensar, mas logo aprendi e pensei: "O que mais me falta ver nesse mundo?"
Não pode ser. Era uma plantinha. Estava lá, na dela, respirando esse ar poluído de Belo Horizonte, pensando (mas pensando muito mesmo) em quem votar pra prefeito. Mas alguém vem e leva a coitadinha embora. Não pediram resgate nem nada. Levaram o verde.
Eu não sabia o que pensar, mas logo aprendi e pensei: "O que mais me falta ver
nesse mundo?"

Agora está aí, gente roubando planta da Amazônia, cortando, queimando, contrabandeando...
Não acredito que ladrão começa roubando bancos e carros de uma hora pra outra. Começa quando pequeno, na escolinha rouba a borracha do colega, depois rouba a bola do colega, depois perde o colega, compra outros por meio de roubos, e por aí vai.
Nesse caso não penso diferente, começa roubando essa planta de jardim, e dentro de alguns anos, sua imaginação pode dizer qual será o futuro desse sujeito.
Literalmente, roubaram o verde!

sábado, 18 de outubro de 2008

Carta à minha terra natal



Seria mentira dizer que não fui embora por sua causa. Sim, foi pela soma de mesquinharias capixabas que me retirei da minha antiga cidade e estado.
Não foi só a minha escolha, mas de todos os moradores dessa terra, que continuam fazendo tudo para que seus habitantes deixem esse belo terreno fértil.
A falta de orgulho e devido valor ao chão em que sujam; a ausência de personalidade, achando serem cariocas ou paulistas, e por que não os dois ao mesmo tempo? ; egoísmo ao extremo, visto nas ruas diariamente; as críticas excessivas ao vizinho mineiro, sem saber que na realidade são em sua maioria o inverso de nós capixabas.
Ah, agora você vai defender seu solo, é? Claro, temos uma fábrica de chocolate, de papel, de aço, uma praia mal cuidada e muitos “meninos do Rio”, com seu jeito malandro de falar, carro do papai, dinheiro no bolso e muita arrogância na ponta da língua, pronta pra ser jogada contra quem lhes disser um “não”.
"Ah, agora você vai defender seu solo, é?"

Espera, também temos uma bandeira com os dizeres
Trabalha e Confia”, que, por acaso, é muito bonita, mas você, capixaba malandro, nem sabe que suas cores são branco, verde e rosa, num é? Opa, errei, essas são as da sua escola de samba “lá do Rio de 'Xaneiro'”.
Não quero generalizar, quem sou eu para cometer tal heresia, mas aos que essas palavras tocam o coração com ódio, essa carta é para vocês, que não querem ver que, por mais que doa, estamos afundando nessa ilha cheia de nós mesmos.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

TV em Pânico

Desculpem-me os adolescentes, jovens, e por que não, os adultos que assistem ao "Pânico na TV", mas êta programinha ruim esse, hein?
Exibido todas as noites de domingo na emissora "RedeTV", o programa quer dar um "ar" de jovem, despreocupado, irreverente, gozador, e outros adjetivos "despojados", mas, para mim e para muitos outros, não passa de um show sem classe.


Erotismo exacerbado mostrando a mulher apenas como um objeto a ser usado em "provas" queo máximo possível de seus corpos, esquecendo do tal cérebro que elas, talvez, tenham. A desvalorização feminina é evidente, com uma mulher virando uma "samambaia", exemplificando um vegetal, que pode até ser belo de se admirar, mas pensar que é bom, nada. exibam


Agora é a vez de analisar tão "graciosas" figuras do "humor" brasileiro. A dupla Vesgo e "Silvio" vão a festas e outros eventos, para pura e simplesmente tirar sarro da cara das pessoas. Humilhação gratuita distribuída a famosos e não-famosos, apenas pelo fato de abaixar o outro criticar destrutivamente, e mostrar que isso sim é "irreverência" de verdade.


Por favor, não me deixem esquecer do "Bola", um dos apresentadores, que tem um dostrabalhos mais difíceis que já vi. Rir de todas as piadas sem graça do programa é crueldade, e precisa de muita concentração para fazê-lo.


Vamos lá jovens, vou lhes dar uma dica, e isso porque sou realmente quero o melhor pra você, leitor. Se você quer ver algo verdadeiramente "despojado" e irreverente", deixo meu lado quase jornalista, e faço-me um quase publicitário dizendo: assistam "CQC".

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Só por esporte

ESTE TEXTO FOI ESCRITO POR BRETT GREGORY JOHNSON

Fiquei impressionado com o Campeonato Cinqüentenário que a PUC fez o final de semana passado.

(Guilherme Augusto Pessoa fazendo o 100m borboleta - foto por Brett Johnson)

Bom, nem vi tudo que estava acontecendo lá. Me tinha inscrito para três eventos no campeonato de natação, portanto não deu para ver o atletismo, o futebol, ou a peteca em ação. Mas o que vi na piscina era sim impressionante. Eu tinha inscrito só de brincadeira. Nunca nadei competitivamente, apenas por recreação. Mas tem uma primeira vez para tudo. Enquanto à quem seria a minha competição, eu só conhecia o Guilherme Augusto Pessoa, um colega do Ricardo no curso de jornalismo. Fisicamente, Guilherme não é nada imponente, mas na piscina ele usa cada centímetro do corpo para desviar a água na sua frente. Naquele sábado, ele acabou sendo o Michael Phelps da PUC, ganhando oito medalhas—4 de ouro, 2 de prata, 2 de bronze. Eu tinha a sorte de estar na mesma equipe de revezamento dele no 4x50m livre, em que terminamos terceiro colocado. Parabéns Guilherme.

(Guilherme Augusto com suas medalhas - foto por Ricardo Mallaco)

E além do Guilherme, mais ou menos 25 outro rapazes vieram naquele dia para mostrar que podiam nadar, e nadar bem. Eu tenho que dar parabéns para eles, e também para a PUC por facilitar esse chance para nós competirmos.

(Bronze com gosto de ouro no 4x50m livre - foto por Sandra Gomes)

Mas faltou alguma coisa: onde estavam as mulheres? Eu vi duas entrar na piscina para competir, e apenas em dois eventos. Em inglês temos um termo para um negócio que tem muito mais homens do que mulheres: “A sausage fest”... “Uma festa de salsicha.” Como falei, nem vi direito os outros esportes naquele dia. Mas ouvi falar que no 1500m feminino de atletismo, só duas garotas estavam competindo. Parabéns mesmo para elas por ser tão corajosas.

O que sim vi bem da presença feminina no Campeonato era no futsal. E ainda mais parabéns para aquelas guerreiras que competiram em frente de um público predominantemente masculino que aproveitou de bastante chance para zoar das habilidades delas. Gostaria muito de ver aqueles craques da bancada lá na quadra jogando com a Marta. Muito.

Então eu pensei na última Olimpíada um mês atrás. Assisti com o resto do Brasil o jogo final de futebol feminino entre os Estados Unidos e o Brasil. Vou admitir, as brasileiras jogaram melhor e mereceram ganhar. Talvez o fator chave que afinal decidiu o jogo em favor das norte-americanas fosse a forte tradição de esporte feminino que existe nos EUA e que ainda está demorando para chegar no Brasil. As seleções femininas brasileiras de futebol e de vôlei mostraram a garra para ser campeãs olímpicas, mas acabou que só essa pôde ganhar o ouro. Tomara que o sucesso das duas seleções inspire meninas a começar jogar. Tomara que os pais delas aceitem elas jogando.

Após essa última Olimpíada, a mídia não cansou de falar do “fracasso” dos atletas brasileiros: 23o colocado com 3 ouros, 4 pratas, e 8 bronzes (para um total de 15 que ainda igualou o maior total anterior de 15 em Atlanta em 1996). Recebi bastante raiva na rua e na sala de aula de pessoas chateadas com o sucesso continuado dos Estados Unidos nas Olimpíadas, especialmente em jogos importantes contra o Brasil. “Vocês ganham tudo!” ouvi bastante. Bom, não exatamente. Agora é a China que está ganhando tudo, especialmente os ouros. E os Jamaicanos de 2008, liderados por Usain Bolt, mostraram a sua supremacia no atletismo. O ciclismo continua um esporte dominado pelos ingleses. Os Estados Unidos sim tem basquete, embora o ouro da seleção masculino deste ano tenha sido o primeiro título mundial em 5 anos para o país que inventou o esporte. E os EUA têm natação, ou pelo menos por enquanto: os franceses e australianos sempre lutam ferozmente pelo título de melhor país na piscina.

Mas entendi o ponto: os EUA sempre brilham nas Olimpíadas, enquanto a melhor colocação para o Brasil foi em Atenas em 2004: 16o colocado com 5 ouros. Por quê tanta disparidade entre estes dois “países primos”? Em realidade, é mais do que uma questão de ser “desenvolvido” ou “sub-desenvolvido.”

As raízes da cultura esportiva norte-americana vêm da Grã-Bretanha, historicamente um país com uma cultura esportiva muito forte. Começando com a gestão de Eisenhower nos anos 50, o campo de esportes se tornou um espécie de campo de batalha contra os russos durante a Guerra Fria. Bilhões de dólares foram investidos em educação física, e desenvolvimento de diferentes esportes no ensino médio e nas faculdades, porque o esporte era considerado uma medição de superioridade entre os dois super-potências da época. E agora provavelmente vai continuar assim entre os EUA e a China.

Também, nossa cultura esportiva está bem ligada com nossa mania em relação ao tempo. Nos EUA, seguimos um ritmo bem estrito enquanto ao tempo. Temos tempo para trabalhar, tempo para estudar, tempo para recreação, tempo para comer, etc. As divisas entre as diferentes cenas são tão certinhas como as de uma peça de Shakespeare. Um bloco de tempo reservado nos EUA para recreação (para gente comum) ou treinamento (para atletas sérios) começa na hora, dura o tempo marcado, e termina na hora. Por isso temos uma das taxas mais altas de enfartos no mundo. Mas por outro lado, ganhamos muitas medalhas.

Outra coisa culpável para a discrepância entre a cultura esportiva dos nossos países é a questão da facilidade de acesso aos meios de recreação, principalmente para correr—o verdadeiro base de uma cultura esportiva e a fundação para realizar sucesso no palco mundial. Em Iowa, eu posso sair da porta da minha casa e correr 8km em ruas normais sem ondulações estranhas nem escadas no asfalto. Se eu morar numa cidade maior com ruas mais movimentadas que não deram para correr, vou ter parques para utilizar, ou também pistas de atletismo públicas para aproveitar. Aqui, sim, tem parques também; então, já que as ruas no Coreu e Dom Cabral são meio ruinzinhas para eu correr, eu vou para o Parque Municipal ou a Praça Liberdade. Mas demora muito para chegar lá. Mais interessante para mim seria usar a pista de atletismo da PUC. É certo que a PUC é uma faculdade particular, e portanto eu não estou insinuando que o uso da pista deve ser público. A pista também deve ser particular, e por uso da comunidade acadêmica só. Mas o negócio é isso: sou parte da comunidade acadêmica, e não posso usá-la.

(Pista de atletismo da PUC - foto por Brett Johnson)

Quando eu cheguei aqui em fevereiro, a pista já estava construída, e já tinha facilitado um evento esportivo ao final de 2007. Era perfeita. E não mudou de ser perfeita. Continua perfeita. É a mesma pista de atletismo hoje que era 8 meses atrás. E fica aí, no complexo esportivo, ociosa, inútil, em vão. No site do Centro Olímpico do complexo desportivo da PUC, se lê o seguinte:

A PUC Minas se torna a única universidade brasileira a contar com uma pista de atletismo que atende aos padrões exigidos pela Federação Internacional de Atletismo. Com a inauguração do Centro Olímpico, que integra o Complexo Esportivo da Universidade, atletas profissionais, a comunidade acadêmica, crianças e jovens atendidos por projetos sociais vão poder contar com uma infra-estrutura moderna para treinamento e para a iniciação no esporte. Resultado de convênio entre a Universidade e o Ministério dos Esportes, a obra irá mesclar o treinamento de alto rendimento com a formação de jovens talentos. “Decidimos não fazer um centro de treinamento geral, como foi previsto no início das negociações, mas, sim, um centro específico”, explica o reitor, professor Eustáquio Afonso Araújo. “Escolhemos o atletismo, porque é uma área onde o Brasil tem mais a evoluir e sabemos do papel social que podemos desempenhar junto às escolas públicas em Belo Horizonte e Minas Gerais”.

Bom, eu faço parte da comunidade acadêmica. Sou eu que quero contar com essa “infra-estrutura moderna para treinamento”. Eu até podia ter contado nela durante este ano inteiro. Mas, a pista fica lá, ociosa, inútil, em vão. A semana passada eu mandei um email para a secretaria do complexo esportivo, querendo saber se a pista realmente se abriria para nós estudantes usarmos, já que o Campeonato Cinqüentenário em certa maneira “inaugurou” ela. Recebi deles o seguinte:

AOS USUÁRIOS DO COMPLEXO ESPORTIVO:

INFORMAMOS QUE A PISTA DE ATLETISMO, O CAMPO DE FUTEBOL E O LABORATÓRIO DE MUSCULAÇÃO NÃO ESTÃO SENDO UTILIZADOS MONENTANEAMENTE, EM FUNÇÃO DE QUESTÕES ADMINISTRATIVAS. TÃO LOGO ESTAS QUESTÕES ESTEJAM SOLUCIONADAS, SERÃO DIVULGADAS AS RESPECTIVAS FORMAS DE UTILIZAÇÃO.

Que porra são “questões administrativas”?! A pista é perfeita, e já tinha um ano para solucionar “questões administrativas”. Deixa a gente usar logo!

O Brasil ainda tem muita coisa para ser um país orgulhoso enquanto ao esporte. Começando logicamente com futebol: o Brasil tem sido o país onde o futebol vira poesia, tanto para homens quanto para mulheres. A seleção masculina vai continuar realizando muito sucesso...depois de dispensar do Dunga. A seleção feminina também vai, e muito provavelmente jogando com mais espírito e coração, já que não são pagas os milhões de euros dos craques masculinos. Mas elas sim vão precisar de apoio. O Brasil já realizou sucesso em tênis com Guga, está realizando-o em natação com Celso Cielo, e bastantes brasileiros jogam no NBA. Quem sabe se algum dia o NFL (a liga de futebol americano nos EUA) vai estar cheio de craque brasileiro? O vôlei ainda vai continuar forte depois do Brasil perder 3 dos 4 finais olímpicos dos EUA.

E o atletismo? Bom, tem a Maureen Maggi, que superou de um escândalo de doping para ganhar ouro no salto de distante. Parabéns Maureen. Mas re-realizando o sucesso dela, sem mencionar realizando o mesmo nível de sucesso não só dos EUA, mas também da Jamaica, Rússia, Quênia, Etiópia, China, e Marrocos na multidão de eventos de atletismo, vai significar construir mais pistas de atletismo no país inteiro. E não deixar o burocracia (ou, falada mais ligeiramente, “questões administrativas”) obstruir atletas jovens de experimentarem nelas o sentido de correr rápido, saltar longe, ou jogar um disco até o céu.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O olhar do gringo: deixe me apresentar

ESTE TEXTO FOI ESCRITO POR BRETT GREGORY JOHNSON

Já viu aquele comercial de Havaianas? Aquele em que Lázaro Ramos e outro homem lamentam na praia que o Brasil tenha tanto problemas, mas quando um argentino que está escutando inquire sobre quais são esses problemas, os brasileiros negam que o País tenha problema nenhum, que ele seja perfeito?

Bom, para quem viu, eu me sinto muito com aquele argentino. Só que a minha situação é ainda pior do que a situação dele. Não sou um “hermanito”, e sim pareço mais um “Big Brother”, uma agente vigilante de um país que exerce o seu poder em quase qualquer canto do Planeta.

Eu sou norte-americano. Eu sou gringo.

Então, para eu inquirir, sem falar em fazer crítica sobre os problemas de um país que não seja meu, eu esperaria uma reação defensiva por conta do meu público brasileiro, similar a ela que recebeu o argentino inquisitivo. E eu, como gringo, esperaria mais ainda: uma reação ofensiva. Eu não sou ignorante aos tantos problemas que o meu país já causou no mundo. São muitos, e cada vez que eu entrar na sala de aula, ou até cada vez que eu me introduzir como um norte-americano para alguém, eu aguardo que uma crítica sobre um dos problemas com a etiqueta “Made in USA” seja discutido.

Então, quem sou eu para fazer crítica de um país além do meu? Quem sou eu para fazer crítica sobre um país que já sofreu problemas causados por mãos norte-americanas?

Eu não cheguei aqui para criticar o Brasil. Eu vim aqui em uma bolsa da organização Rotary International para estudar mais sobre o Brasil para depois ensinar outros norte-americanos sobre tudo brasileiro quando eu voltar em dezembro. Também estou aqui para compartilhar a minha cultura e oferecer perspicaz sobre o meu país complicado para quem quiser ouvir. Muitas vezes isso significa que eu recebo críticas sobre os EUA, críticas com que eu concordo muitas vezes. Eu não sou a favor do Bush, nem da guerra dele. Eu acredito que aquecimento global existe, e acho que o meu país tem que fazer mais para combatê-lo. Eu acho injusto nosso sistema de subsídios agrícolas e de tarifas contra bens brasileiros que é contraditório do nossa fé zelosa no comércio livre. Entre outras coisas.

Quando viajar, você acaba dando mais conta às coisas ruins do seu próprio país. Mas também acaba conhecendo outro país que—como qualquer outro—tem os seus próprios elementos bons e ruins. Ao final de contas, comparar os problemas que o seu país nativo e o seu país anfitrião têm não é um questão de determinar qual deles é melhor. Sim é uma questão de entender melhor o que é que compartilhamos quanto a nossos problemas, o que é que fazemos para curar eles ou prevenir outros, e o que é que podemos aprender de nossas experiências ao mesmo tempo distintas e semelhantes.

Então, meu discurso crítico aqui neste blog não é para zombar do Brasil e elogiar os EUA. É sim para oferecer as reflexões de um estrangeiro sobre o tempo dele no seu país adotivo, em nome de entendimento mútuo entre os povos de dois países que em muitas maneiras são primos.


Não sou hermanito, nem um Big Brother. Sou sim um primo gringo, e este é o meu olhar.

domingo, 14 de setembro de 2008

Do lado de lá da faixa


Quando pequeno, disseram-lhe pra olhar para os dois lados da rua, antes de atravessar. Agora nem notamos, mas isso é um instinto, automático.
Quando pequeno, disseram-lhe pra não criticar porque isso era feio, errado. Agora nem notamos, mas criticamos como um instinto, e muitas vezes esse instinto é muito mais selvagem do que deveria ser.
Ainda somos selvagens. Não vamos mudar, pois quanto maior o esforço que fazemos para sermos algo que não nascemos pra ser, tornamo-nos ainda mais rudes.
A faixa de pedestres é uma marca, inventada pelo homem, pintada no asfalto, que lhe passa a idéia de ser um lugar seguro para atravessar. Mas será que realmente existe um lugar que lhe garanta proteção em uma travessia? Carros podem atingir velocidades altíssimas.
A crítica, por sua vez, não foi inventada. Já veio "instalada" no homem. Tem vida própria. Aguça-se observando o cotidiano, e é usada como arma quando não nos conformamos com o que assistiu. Podendo ser arma letal, de "brincadeira" ou como um choque, apenas para alertar.
"A arte de julgar pode ser um defeito se usada sem nenhum escrúpulo". Mas pera aí, né? Duvido que todo pintor fez boas pinturas. Talvez usou demais o verde... talvez desapareceu com o vermelho... talvez esqueceu do verde, amarelo e azul.
O crítico é como o pintor, tenta impressionar, mostra seu ponto de vista na obra e espera assim por uma crítica a respeito do resultado. Às vezes exageram. Algumas vezes a conclusão não agrada, pois não chama a atenção. Até podem virar como a famosa "Monalisa", ou "O grito de Munch":assustador para alguns; arte para outros.


"Talvez usou demais o verde... talvez desapareceu com o vermelho... talvez esqueceu do verde, amarelo e azul."



Crítica: forma de expressão e julgamento, buscando mudanças, ou apenas um simples alerta.
Critique também, mas lembre-se olhar pros dois lados antes de atravessar. Essa travessia pode lhe custar a vida. Levar-te ao outro lado, que pode ser o melhor naquele momento, o mais seguro. Sua passagem pode inspirar outros a tentar, e assim obter o resultado esperado.

Olhe pros dois lados antes de decidir sua última palavra, a crítica.

(Foto por Brett Gregory Johnson)